segunda-feira, 22 de março de 2010

DICA 5 - A Contribuição da Sociologia de Durkheim para o Aparecimento das Ciências Sociais

A Contribuição da Sociologia de Durkheim para o Aparecimento das Ciências Sociais

 Compreender como Durkheim demonstra a existência de fatos puramente sociais;
 Identificar os caracteres do fato social segundo Durkheim: coercitivo, exterior e geral;
 Reconhecer as relações entre o todo e as partes, isto é, entre o coletivo e o individual, segundo Durkheim.

Durkheim concebe o social como maneiras de agir coletivas não derivadas de potências individuais, chamadas por ele de FATOS SOCIAIS
Para chegar a esse ponto, porém, ele desenvolveu todo um raciocínio demonstrativo que está no primeiro capítulo de As Regras do Método Sociológico. Nesta aula, vamos resumi-lo e explicá-lo.

Fatos Sociais – o caráter exterior
Durkheim tinha muita preocupações, porém a que apareceu com mais frequência em seus trabalhos foi a que dizia respeito à definição do objeto de estudo da Sociologia em relação aos objetos de estudo das demais ciências. Era esta distinção que garantiria a independência da Sociologia e do seu método.
Para demonstrar a existência de fatos pura e exclusivamente sociais, Durkheim teve de proceder como criterioso sistematizador de suas observações, por meio de um processo correspondente a uma verdadeira decantação intelectual
(Isto é, realizando mentalmente a separação de elementos que na realidade se encontram misturados, tal qual num laboratório se faz ao separar os elementos de uma solução).

Durkheim e o Caráter Exterior dos Fatos Sociais
A primeira observação diz que os fatos sociais são exteriores aos homens
Nem todo fato é social. Por exemplo, cada indivíduo bebe, dorme, come e raciocina e a sociedade tem todo o interesse em que essas funções se exerçam de modo regular. Porém, se todos esses fatos fossem sociais, a Sociologia não teria objeto próprio e o seu domínio se confundiria com o da Biologia e o da Psicologia.
Os fatos citados anteriormente (beber, dormir, comer e raciocinar), quando realizados em sociedade, não estão limitados a serem biológicos e/ou psicológicos, como somos tentados a crer numa observação feita sem maiores considerações.

Beber água, por exemplo, é uma necessidade biológica que qualquer animal selvagem procura fazer com tranquilidade (fato psicológico). Porém, quando se bebe água em sociedade, o fato das fontes de água, em geral, serem propriedades e a sua utilização por distribuição no abastecimento público ou privado cobrada, paga, por quem bebe, transforma esse simples e singelo ato natural em um fato também social.
O mesmo acontece com relação a dormir, comer e raciocinar. Em sociedades, existem os horários de dormir, os de comer, e os modos de raciocinar, que são aprendidos e os indivíduos fazem de cada uma dessas funções um composto de realidades biológicas, psicológicas e sociais, cada uma delas de sua respectiva ciência.
Assim, indicando a presença de realidades sociais conjugadas na prática com realidades biológicas e psicológicas, mas agindo como um observador instruído para separá-las em pensamento, Durkheim encontrou-se diante de um problema: dizer como os praticantes dos fatos sociais (os indivíduos que são por natureza biológicos e psicológicos) o manifestariam, já que esses fatos não estariam neles por natureza. Se o social já estivesse nos homens por natureza, se fosse próprio da espécie humana, sua realidade se confundiria com as realidades biológica e psicológica.
Em relação aos homens, os fatos só podem ser exteriores, pois eles não estão nos homens por natureza, só podem existir fora deles, só podem vir de fora deles, para depois por eles se manifestarem.
Os fatos só podem ser produto da vida coletiva dos homens em oposição à natureza deles.
Sabemos que os fatos não são naturais dos homens e vêem de fora deles, então por que razão eles (os indivíduos) os manifestariam?
Como aconteceu de, no fim, os homens manifestarem o social em seus atos, se o social não está na natureza deles?
A resposta de Durkheim diz que, os homens por coerção, por pressão, irão aceitar o social e agir de acordo com ele, como se o social fosse de sua própria natureza, sentindo como se fosse seu o que lhe é imposto de fora.

Fatos Sociais – o caráter coercitivo
Os homens aceitam o social e agem de acordo com ele por coerção, por pressão, como se o social fosse de sua própria natureza, ou seja, como se fosse seu o que lhes é imposto de fora.
Os indivíduos não agiriam socialmente, sem a coerção. É a coerção exterior que nos faz ser vítimas de uma ilusão e acreditarmos ser produto de nossa elaboração aquilo que a sociedade faz de nós.
A educação que muitos julgam ser uma prática voltada para dotar os indivíduos de habilidades diversas é, para Durkheim, uma prática voltada para formar o ser social por meio de coerção. O ser social formado em cada indivíduo não tem nada a ver com a sua natureza.
Ninguém é advogado, professor ou médico por natureza, por mais que acredite ter afinidade com essas profissões. Ninguém será um desses profissionais senão por educação, e esta é realizada com métodos coercitivos como leituras obrigatórias, provas e outras práticas de formação daquilo que é projetado coletivamente num currículo antes de ser realizado num indivíduo.
Fatos Sociais – o caráter geral
O fato social, além de ser exterior e coercitivo, precisa de mais uma qualidade para a sua definição, no que diz respeito à sua extensão no grupo ou sociedade em que existe: ele tende a ser geral
Ser geral implica em se confundir com outras coisas gerais, que existem em sociedades, mas que não são sociais. (Respirar é geral, mas não é social. Sentir as variações térmicas é geral, mas não é social. Ter funções fisiológicas é geral, mas não é social).
Por exemplo, o casamento (fato social) é referência para todos os chamados estados civis. Não importa ter aceito a coerção desse fato social e ter casado, ou não ter aceito essa coerção e não ter casado. Será pensado, classificado de acordo com a relação que tem com o casamento e será para a sociedade: casado, solteiro, viúvo, desquitado, divorciado ou em concubinato.
E assim acontece com os demais fatos sociais. Não adianta dizer que não torce por nenhum clube de futebol. Sua relação com esse fato coercitivo, o de ter de escolher um clube para torcer, o fará um não torcedor, alguém estranho, isolado, mas jamais ignorado em relação a ser ou não ser torcedor de futebol.
Durkheim afirma que a compreensão do que é a realidade do fato exterior, coercitivo e geral está bem longe de existir no todo devido ao fato de existir nas partes, mas, ao contrário, existe nas partes porque existe no todo.
(Sem dúvida, equivale a dizer que cada indivíduo (parte) representa o social (o todo), mas que o social (o todo) não representa nenhum indivíduo (parte).
Consciência coletiva
Consciência Coletiva são as manifestações do social nos indivíduos, suas maneiras de agir, pensar e sentir que, embora presentes nas manifestações individuais, são de origem coletiva, ou seja, são sociais.
Sentimentos como o de vergonha (Que só se tem em sociedade) em grupo, na presença de alguém ou na suposição de que alguém possa saber que por ventura fizemos algo condenável, definem com clareza a existência em nós de algo exterior a nós.
Na pura solidão não há vergonha. Esta é uma maneira coletiva de sentir, que só existe devido a exigências coletivas de adotarmos certas atitudes e à censura feita a determinados comportamentos.
Na definição com que concluiu o primeiro capítulo de As Regras do Método Sociológico, Durkheim resumiu o objeto sui generis de sua Sociologia com palavras que bem esclarecem seus caracteres coercitivo, exterior e geral, bem como a sua independência em relação a outras realidades:
“É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.”

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