segunda-feira, 29 de março de 2010

DICA 7 - Noções básicas e divisões da Antropologia

NOÇÕES BÁSICAS E DIVISÕES DA ANTROPOLOGIA

entender do que trata e como trata antropologia o seu objeto.
conhecer as diferenças básicas entre as etapas históricas da Antropologia.
compreender as divisões da Antropologia e as suas razões.

Nas aulas anteriores, vinculamos o social à Sociologia, a violência à Ciência Política, e a cultura à Antropologia, tendo em vista indicar o mínimo necessário para começar a entender as razões dessa divisão das Ciências Sociais. Vimos também que chamamos de cultural toda a realidade produzida individual e coletivamente pela inteligência humana

A Antropologia tem a sua própria divisão, decorrente de longa história, na qual métodos e técnicas de investigação e pesquisa, bem como diferentes concepções do que devia ser o seu objeto de estudo, fizeram-se fundamento de partes qualificadas de antropológicas e consolidadas nos meios acadêmicos, apesar das muitas divergências entre os seus estudiosos.

No século XIX, pretendia-se que a Antropologia fosse uma espécie de Antropologia Geral, de modo a englobar realidades humanas biológicas, históricas e sócio-culturais.
O problema é que fazer relações entre essas realidades em um tempo em que o desenvolvimento industrial era tomado como medida da qualidade dos povos, levou aquela Antropologia a ser tomada como fundamento científico de algo que a muito tempo era realidade na Europa: o racismo.
A Antropologia alcançou o seu relativo sucesso ao explicar a superioridade material européia. Ao justificar o colonialismo e o imperialismo, e também ao ligar a criminalidade a propensões biológicas dos indivíduos.

O desenvolvimento das Ciências Sociais (Sociologia) no século XIX inspirou estudos dos fenômenos culturais, como o estudo das realidades derivadas das relações dos homens com o meio (Geográfico e/ou social) em que viviam.
Os fenômenos culturais não consideravam o homem um produto do meio e sim um produto do seu meio. Ou seja, era considerado como um acréscimo produzido a partir de sua relação com o meio em que vivia e que não era exatamente produzido por ele, mas sim um meio geográfico e/ou um meio produzido anteriormente por outros homens

O resultado desses estudos, em que se recusava reconhecer a produção cultural como derivada das condições biológicas dos homens, especialmente as raciais, foi a divisão da Antropologia
No seu significado etimológico a palavra Antropologia quer dizer “estudo do homem”. Indo além do limitado significado do seu nome, a Antropologia trabalha para conhecer os homens não só pelas suas criações, mas pelas relações que aqueles têm com estas, com a parte do mundo a que se referem e ao próprio mundo como o concebem. Enfim, trabalha para conhecê-los em um universo de inesgotáveis relações com a própria consciência do que pensam e do que fazem no mais amplo sentido.
Enquanto o desenvolvimento técnico aplicado à Antropologia Biológica levou-a quase a se tornar uma Antropometria, a Antropologia desenvolvida a partir das contribuições sociológicas conquistou para si a palavra cultura e todo o significado a ela atribuído.
Contudo, nem a Antropologia Física ou Biológica fez da Antropometria os seus limites, nem a Antropologia Social ou Cultural eliminou as considerações de base biológica, embora existam influências recíprocas na oposição irreversível e no antagonismo inconciliável) em Física ou Biológica e Social ou Cultural, numa posição irreversível, dado o antagonismo inconciliável de suas concepções básicas).
A Antropologia Física ou Biológica não é mais somente uma prática de medições de estaturas, crânios, de faces ou de troncos e membros voltada para classificar definitivamente as raças do planeta, com todo o perigo de fundamentar teses racistas. As considerações de ordem cultural foram acrescentadas e o seu resultado mais expressivo foi o aparecimento dos estudos arqueológicos.
A Antropologia Social ou Cultural, devido a seus métodos e técnicas de investigação e pesquisa voltadas para romper com os julgamentos racistas e preconceituosos, buscou o caminho da neutralidade investigativa e da imersão nas realidades culturais para ser mais justa e fiel aos grupos ou povos estudados. Isso a levou a trabalhos de campo, nos quais destacou a observação participante como um de seus principais métodos.

A busca por estudar sociedades diversas, cada uma nos seus próprios termos, deixou em aberto as possibilidades de investigação das sociedades passadas ou do passado dos homens, de acordo com essa ambição de neutralidade e justiça.
E isso fez com que os estudos arqueológicos, enraizados na Antropologia Física, progredissem e levassem a um novo ideal e projeto de ciência social.

A busca da Antropologia Social em estudar sociedades diversas, cada uma nos seus próprios termos, deixou em aberto as possibilidades de investigação das sociedades passadas ou do passado dos homens, de acordo com a ambição de neutralidade e justiça. Isso fez com que os estudos arqueológicos, enraizados na Antropologia Física, progredissem e levassem a um novo ideal e projeto de ciência social.
A Arqueologia é concentrada nas coisas antigas, desde que sejam indicativas da presença e da ação dos homens. Sua abrangência está relacionada a achados e estudos típicos de Antropologia Física. Está relacionada também a indicadores de invenção humana, como armas e artefatos em geral, com especial atenção à escrita e a outras formas simbólicas de expressão, que estão mais próximas da Antropologia Social ou Cultural. Mas é preciso deixar claro que a Arqueologia, hoje, por meio de seus estudiosos, é uma ciência ou disciplina à parte de suas raízes antropológicas, cujo instrumental teórico e prático não prescinde.

As contribuições da Antropologia Social ou Cultural levaram a uma determinada opção no tratamento dos conhecimentos antropológicos, que não devem mais ser tomados como absolutos e válidos para todos os tempos e lugares. Adotou-se, então, um procedimento definido pelo verbo relativizar e sua conjugação tomou o lugar dos imperativos e categóricos conhecimentos anteriores.
Propõe-se que a Antropologia proceda no estudo dos fenômenos culturais.
As descobertas ou confirmações da realidade cultural seja um modo de pescar, uma técnica de construção de barcos, relações de parentesco, cantos, pinturas, escrita ou outros indicativos de presença e intervenção humanas, não são mais limitadas pela ideia de que o homem criou, porque assim reagiu ao meio e porque tem alguma utilidade, embora isso continue sendo considerável e veja a sua própria história relativizando.

A escola evolucionista
Possui uma clássica concepção da evolução humana em sociedades, que fala numa sequência que passa por selvajaria, barbárie e civilização


A escola Funcionalista
Contraria ao evolucionismo e as suas tendências a hierarquizar os povos e consolidar preconceitos, apesar da oposição dos estruturalistas.

A Escola Estruturalista
Se baseia na noção de estrutura social, proposta por Lévi-Strauss, para significar não a realidade empírica e sim aos modelos construídos para representar a realidade das relações sociais, que são a matéria-prima dessa construção.

Para termos as noções básicas da Antropologia e suas divisões, precisamos considerar a Antropologia Física ou Biológica, a Antropologia Social ou Cultural e a Arqueologia.
Estas têm relações com as escolas evolucionista, funcionalista e estruturalista, lembrando as muitas especializações possíveis, como, por exemplo, a Antropologia Política e a Antropologia Urbana.

sexta-feira, 26 de março de 2010

DICA 6 - A Sociologia Compreensiva de Max Weber

 
A Sociologia Compreensiva de Max Weber

Compreender que a Sociologia é uma ciência que se propõe a entender e interpretar  para em seguida explicar a ação social;
Identificar as definições fundamentais de Max Weber;
Conhecer o procedimento interpretativo de Max Weber, a construção do tipo ideal identificando os tipos ideais de ação social.
 
Nesta aula, veremos as bases da Sociologia que rejeitam a ideia de que o homem seja um animal social por natureza e a ideia de que o social é exterior aos homens.
Max Weber (Com formação e carreira docente em Direito e em Economia) dedicou-se à criação de uma Sociologia que reconhecesse e desse às pessoas individuais a importância que o exagero despersonalizante.
 
No final do século XIX, devido à grande influência do pensamento marxista e do que era produzido sob o nome de Sociologia, havia nas Ciências Sociais tamanha presença de conceitos coletivos, que a importância dos indivíduos, considerando-se aquilo que de mais puramente individual pudessem ser portadores, parecia ter sido completamente desprezada.
O fato de tanto Marx quanto Durkheim, os mais importantes autores até aquele ponto, terem procurado demonstrar a existência de realidades sociais como coisas puras, dava margem a que, sem maiores cuidados, muitos de seus seguidores interpretassem assim.
Desse modo, classes, estamentos, partidos, estados, clubes, empresas, nações e outras formas de existência coletiva eram tratados como se os indivíduos que lhes davam existência nada importassem e em nada influenciassem naquilo que podiam significar nas sociedades.
 
Para compreendermos as bases de Weber e a razão do nome Sociologia Compreensiva, precisamos primeiro conhecer a definição que ele dá para a Sociologia.
Weber projetou uma Sociologia que partisse da ideia de que o social não estava acima dos indivíduos e nem fazia parte de sua natureza, mas estaria, sim, naquilo que mentalizassem quando agissem, ou melhor, nas ações em que levassem em consideração a conduta de outros.)
 
Weber diz que Sociologia é uma ciência que pretende entender e interpretar  a ação social, para dessa maneira explicá-la causalmente em seus desenvolvimentos e efeitos não pensa, portanto, em explicar o que observou. Ela interpreta para explicar em seu desenvolvimento e efeitos, a ação social, enfim todas as ações
A Relação social acontece quando:
 - Os sujeitos levam em consideração a conduta dos outros em suas ações.
- reciprocamente agem e interagem numa conduta plural de dois ou mais sujeitos, que podem ser assim qualificadas.
Por ação social entende-se aquela em que seu sujeito, ao mentalizar um sentido, leve em consideração a conduta de outros e oriente-se por essa conduta em seu desenvolvimento.
 
A Sociologia Compreensiva de Max Weber está voltada para:.
Na Interpretação do sentido mentalizado pelos sujeitos de ações sociais.
 Na ações coletivas, ou seja, nas ações de nações, partidos, clubes ou sindicatos.
 no sentido que não está nas pessoas coletivas e sim nas pessoas individuais, na mente de cada pessoa que age em uma dessas ações
 
Toda interpretação tende à evidência
Se todas as pessoas individuais quando agirem em uma mesma ação coletiva tiverem o mesmo sentido mentalizado, não haverá a menor necessidade de interpretar esse sentido, pois ele estará dado, será evidente, não precisará de interpretações.
Se há uma Interpretação dada não precisa mais ser perseguida, pensada, procurada em pensamento pelo intérprete.
Weber estudou as concepções que tendiam a abolir a importância dos sujeitos individuais sob a alegação de que esses agiam de acordo com o sujeito coletivo, fosse este um partido, um sindicato ou principalmente uma classe.
Para ele, quando se falava em ação de classe, dizia-se erradamente que “o indivíduo pode errar em relação a seus interesses, mas a classe nunca erra”. Isso porque, para muitos as classes eram sujeitos da produção e da história e não os indivíduos.)
 
O fato de indivíduos terem os mesmos objetivos ao agirem coletivamente não garantia a ninguém que tinham os mesmos motivos
O fato dos indivíduos agirem coletivamente por melhores salários, não garantia que todos tinham os mesmos motivos para desejarem aumentá-los, que todos iriam fazer as mesmas coisas no caso de ganharem mais dinheiro.
Não era porque todos os partidos tinham o mesmo objetivo, o de alcançarem e dominarem as instituições políticas, que tinham o mesmo motivo, o mesmo ideal para alcançá-las e dominá-las), os mesmos sentidos mentalizados
Partidos políticos, por exemplo, podem ter o objetivo comum de “alcançar o poder”, porém seus motivos particulares (Aqueles que aparecem em seus programas) são diferentes.
Falar de um único partido, como se a maioria deles ou todos fossem iguais em relação aos objetivos (que estão em seus programas, em relação ao que seus afiliados têm em mente quando agem em seu nome), não encontra evidência.
 
A falta de uma evidência quando se quer falar do sentido, isto é, dos motivos dos partidos políticos em geral, ou de uma certa época, de certo país, não vem a ser uma impossibilidade.
O sociólogo pode construí-la, como ideia ou como produto de pensamento, desde que esse pensamento tenha como base a realidade.
 
A mesma realidade de tão dispersa, tão diferente nos motivos particulares dos partidos políticos, está muito longe de apresentar maioria ou unanimidade de motivos
O tipo ideal é o nome dado aos motivos das ações (evidência dos sentidos) construído idealmente, por raciocínio, a partir da realidade em que estão dispersos.
 
Exemplo de Tipo Ideal
Como exemplo de tipo ideal, vamos imaginar um determinado país no qual haja dez partidos políticos que, apesar das suas muitas diferenças e divergências, obedeçam a uma única ordem política definida em uma constituição e vivam sob o signo do “poder” próprio dessa ordem constitucional.
Vamos considerar que, aos pares ou em grupos, os partidos concordem em alguns pontos programáticos. Sem levar em conta o percentual de eleitores que tenderia a votar em cada um deles e, uma vez que nenhum deles teria a maioria absoluta de eleitores (não havendo, portanto, partido preponderante), vamos buscar o sentido individual de cada um desses partidos, de modo a chegar àquele que seria o sentido típico-ideal de partido político desse país.      
 
Esse tipo ideal não existirá na realidade. Porém, a sua construção teórica deverá nos aproximar ao máximo do sentido real de todos eles individualmente considerados, indicando o programa político típico-ideal do que tende a ser apresentado nas eleições de determinada época desse imaginário país.
Limitamos em três os pontos programáticos de cada partido, que, em rigor, seriam os sentidos mentalizados por seus atores ao representá-los em suas ações políticas, e representamos cada um deles com uma letra:
 
Depois formamos com eles o tipo ideal do sentido dos partidos políticos do país que imaginamos, em consequência, o tipo ideal do que tendem a propor na propaganda política:  ADG
Desse modo, a dispersão dos sentidos desses partidos políticos, foi posta em ordem pelo pensamento e se fez a melhor aproximação possível a essa realidade, embora esse tipo puro não exista nessa realidade, a partir da qual e para a interpretação da qual foi construído.
Weber dizia que “a casuística sociológica só pode construir-se a partir desses tipos puros (ideais). Porém, é por si evidente que a sociologia emprega tipos médios (modais), do gênero dos tipos empírico-estatísticos; uma construção que não requer aqui maiores esclarecimentos metodológicos”. 
 
Weber destacou sentidos diferentes entre si, que seriam os mais frequentes (no sentido de mais comuns à realidade de todas as ações, por mais heterogêneas que fossem), e construiu sentidos típico-ideais puros. Estes seriam os mais abrangentes possíveis e válidos na interpretação de todas as realidades sociais ou não, individuais ou comunitárias.
A ação social (Como toda e qualquer ação) pode ser:
Racional: Relativa a fins
Racional: Relativa a valores
Tradicional
Afetiva
 
AÇÃO RACIONAL: RELATIVA A FINS
Ação na qual os sujeitos teriam em mente um fim racionalmente definido e seguiriam meios racionalmente elaborados para atingi-lo.
Seria o caso de um partido político ter como fim obter a maior votação possível em uma eleição e planejar sua propaganda como meio de obtê-la.
Ou, então, alguém que tenha um excedente monetário deposita esse excedente em uma caderneta de poupança, pensando em preservar o seu poder de compra, ou em fazer maiores gastos no futuro)
 
Ação racional relativa a valores
Ação na qual os sujeitos teriam em mente diferenciais racionalmente elaborados de conduta individual ou coletiva, como seriam os códigos de regras de conduta em geral, tanto os formais quanto os informais.
Também o caso de um médico guardar segredo de algum fato do qual tomou conhecimento em virtude de seu exercício profissional, devido ao código de ética médica)
Seria o caso de fazer ou deixar de fazer alguma coisa devido a obedecer aos Dez Mandamentos.
 
Ação afetiva
Ação motivada por estados emocionais como os de medo, raiva, ambição, inveja, ciúme, amor, entusiasmo, orgulho, vingança, piedade, devoção ou por qualquer outro tipo de sentimento ou impulso racionalmente inexplicável.
Seria o caso das ações predominantes dos personagens da tragédia
Romeu e Julieta
 
Ação tradicional
Ação cujo sentido estaria em hábitos e costumes arraigados, por vezes até difíceis de terem as suas origens conhecidas pelos seus sujeitos.
Seria o caso de festas populares como o carnaval e as festas juninas
Ou a legitimidade dada a um rei ou a uma rainha para governar.

segunda-feira, 22 de março de 2010

DICA 5 - A Contribuição da Sociologia de Durkheim para o Aparecimento das Ciências Sociais

A Contribuição da Sociologia de Durkheim para o Aparecimento das Ciências Sociais

 Compreender como Durkheim demonstra a existência de fatos puramente sociais;
 Identificar os caracteres do fato social segundo Durkheim: coercitivo, exterior e geral;
 Reconhecer as relações entre o todo e as partes, isto é, entre o coletivo e o individual, segundo Durkheim.

Durkheim concebe o social como maneiras de agir coletivas não derivadas de potências individuais, chamadas por ele de FATOS SOCIAIS
Para chegar a esse ponto, porém, ele desenvolveu todo um raciocínio demonstrativo que está no primeiro capítulo de As Regras do Método Sociológico. Nesta aula, vamos resumi-lo e explicá-lo.

Fatos Sociais – o caráter exterior
Durkheim tinha muita preocupações, porém a que apareceu com mais frequência em seus trabalhos foi a que dizia respeito à definição do objeto de estudo da Sociologia em relação aos objetos de estudo das demais ciências. Era esta distinção que garantiria a independência da Sociologia e do seu método.
Para demonstrar a existência de fatos pura e exclusivamente sociais, Durkheim teve de proceder como criterioso sistematizador de suas observações, por meio de um processo correspondente a uma verdadeira decantação intelectual
(Isto é, realizando mentalmente a separação de elementos que na realidade se encontram misturados, tal qual num laboratório se faz ao separar os elementos de uma solução).

Durkheim e o Caráter Exterior dos Fatos Sociais
A primeira observação diz que os fatos sociais são exteriores aos homens
Nem todo fato é social. Por exemplo, cada indivíduo bebe, dorme, come e raciocina e a sociedade tem todo o interesse em que essas funções se exerçam de modo regular. Porém, se todos esses fatos fossem sociais, a Sociologia não teria objeto próprio e o seu domínio se confundiria com o da Biologia e o da Psicologia.
Os fatos citados anteriormente (beber, dormir, comer e raciocinar), quando realizados em sociedade, não estão limitados a serem biológicos e/ou psicológicos, como somos tentados a crer numa observação feita sem maiores considerações.

Beber água, por exemplo, é uma necessidade biológica que qualquer animal selvagem procura fazer com tranquilidade (fato psicológico). Porém, quando se bebe água em sociedade, o fato das fontes de água, em geral, serem propriedades e a sua utilização por distribuição no abastecimento público ou privado cobrada, paga, por quem bebe, transforma esse simples e singelo ato natural em um fato também social.
O mesmo acontece com relação a dormir, comer e raciocinar. Em sociedades, existem os horários de dormir, os de comer, e os modos de raciocinar, que são aprendidos e os indivíduos fazem de cada uma dessas funções um composto de realidades biológicas, psicológicas e sociais, cada uma delas de sua respectiva ciência.
Assim, indicando a presença de realidades sociais conjugadas na prática com realidades biológicas e psicológicas, mas agindo como um observador instruído para separá-las em pensamento, Durkheim encontrou-se diante de um problema: dizer como os praticantes dos fatos sociais (os indivíduos que são por natureza biológicos e psicológicos) o manifestariam, já que esses fatos não estariam neles por natureza. Se o social já estivesse nos homens por natureza, se fosse próprio da espécie humana, sua realidade se confundiria com as realidades biológica e psicológica.
Em relação aos homens, os fatos só podem ser exteriores, pois eles não estão nos homens por natureza, só podem existir fora deles, só podem vir de fora deles, para depois por eles se manifestarem.
Os fatos só podem ser produto da vida coletiva dos homens em oposição à natureza deles.
Sabemos que os fatos não são naturais dos homens e vêem de fora deles, então por que razão eles (os indivíduos) os manifestariam?
Como aconteceu de, no fim, os homens manifestarem o social em seus atos, se o social não está na natureza deles?
A resposta de Durkheim diz que, os homens por coerção, por pressão, irão aceitar o social e agir de acordo com ele, como se o social fosse de sua própria natureza, sentindo como se fosse seu o que lhe é imposto de fora.

Fatos Sociais – o caráter coercitivo
Os homens aceitam o social e agem de acordo com ele por coerção, por pressão, como se o social fosse de sua própria natureza, ou seja, como se fosse seu o que lhes é imposto de fora.
Os indivíduos não agiriam socialmente, sem a coerção. É a coerção exterior que nos faz ser vítimas de uma ilusão e acreditarmos ser produto de nossa elaboração aquilo que a sociedade faz de nós.
A educação que muitos julgam ser uma prática voltada para dotar os indivíduos de habilidades diversas é, para Durkheim, uma prática voltada para formar o ser social por meio de coerção. O ser social formado em cada indivíduo não tem nada a ver com a sua natureza.
Ninguém é advogado, professor ou médico por natureza, por mais que acredite ter afinidade com essas profissões. Ninguém será um desses profissionais senão por educação, e esta é realizada com métodos coercitivos como leituras obrigatórias, provas e outras práticas de formação daquilo que é projetado coletivamente num currículo antes de ser realizado num indivíduo.
Fatos Sociais – o caráter geral
O fato social, além de ser exterior e coercitivo, precisa de mais uma qualidade para a sua definição, no que diz respeito à sua extensão no grupo ou sociedade em que existe: ele tende a ser geral
Ser geral implica em se confundir com outras coisas gerais, que existem em sociedades, mas que não são sociais. (Respirar é geral, mas não é social. Sentir as variações térmicas é geral, mas não é social. Ter funções fisiológicas é geral, mas não é social).
Por exemplo, o casamento (fato social) é referência para todos os chamados estados civis. Não importa ter aceito a coerção desse fato social e ter casado, ou não ter aceito essa coerção e não ter casado. Será pensado, classificado de acordo com a relação que tem com o casamento e será para a sociedade: casado, solteiro, viúvo, desquitado, divorciado ou em concubinato.
E assim acontece com os demais fatos sociais. Não adianta dizer que não torce por nenhum clube de futebol. Sua relação com esse fato coercitivo, o de ter de escolher um clube para torcer, o fará um não torcedor, alguém estranho, isolado, mas jamais ignorado em relação a ser ou não ser torcedor de futebol.
Durkheim afirma que a compreensão do que é a realidade do fato exterior, coercitivo e geral está bem longe de existir no todo devido ao fato de existir nas partes, mas, ao contrário, existe nas partes porque existe no todo.
(Sem dúvida, equivale a dizer que cada indivíduo (parte) representa o social (o todo), mas que o social (o todo) não representa nenhum indivíduo (parte).
Consciência coletiva
Consciência Coletiva são as manifestações do social nos indivíduos, suas maneiras de agir, pensar e sentir que, embora presentes nas manifestações individuais, são de origem coletiva, ou seja, são sociais.
Sentimentos como o de vergonha (Que só se tem em sociedade) em grupo, na presença de alguém ou na suposição de que alguém possa saber que por ventura fizemos algo condenável, definem com clareza a existência em nós de algo exterior a nós.
Na pura solidão não há vergonha. Esta é uma maneira coletiva de sentir, que só existe devido a exigências coletivas de adotarmos certas atitudes e à censura feita a determinados comportamentos.
Na definição com que concluiu o primeiro capítulo de As Regras do Método Sociológico, Durkheim resumiu o objeto sui generis de sua Sociologia com palavras que bem esclarecem seus caracteres coercitivo, exterior e geral, bem como a sua independência em relação a outras realidades:
“É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.”

DICA 4 - Karl Marx e sua importância nas Ciências Sociais.

KARL MARX E SUA IMPORTÂNCIA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS

 Compreender que o pensamento de Marx foi construído em oposição à Filosofia de Hegel.
 Identificar que para Marx, a produção social das condições materiais de existência é a condição necessária de existência das sociedades.
 Reconhecer que Marx concluiu que as relações sociais de produção são as formas de produzir às condições materiais de existência em sociedades.

Karl Marx
- rejeitou a influência da Filosofia de Hegel e de sua concepção de mundo.
- construiu o pensamento materialista de oposição cuja conclusão, por ser de caráter puramente social, acabou por ser uma das concepções clássicas das Ciências Sociais.
- concebeu as sociedades como formas materiais de existência humana.

Por quais razões Marx concebe as sociedades como formas materiais de existência humana?
Qual a importância dessa concepção para as Ciências Sociais?

Vamos começar com o Idealismo, conceito que é oposto ao Materialismo de Marx.




IDEALISMO
 Tipo de espiritualismo que considera que acima de todos os espíritos está um espírito onipotente e criador dos demais.
 Tudo aquilo que, como a realidade material, aparentemente não seria espiritual: Deus, ser absoluto, basta a si mesmo.
 Deus com sua onipotência racional, criou uma ordem geral, natural e de plena de racionalidade e criou os espíritos semelhantes a Ele.
 Os espíritos humanos, dotados de racionalidade que tinham de se desenvolver como se desenvolve uma semente até se tornar uma árvore)
 Considera que a substância de todos os espíritos é a “razão”, o que equivale a dizer que a qualidade específica dos espíritos é a racionalidade.

Hegel:
- demonstrava que o desenvolvimento dos homens eram as sociedades (Da mesma maneira que Deus criou a Natureza fazendo-a possuidora de uma ordem natural (as suas leis naturais) idêntica à ordem espiritual (as regras racionais previamente escolhidas para ela);
- as sociedades eram criações do espírito humano ainda não acabadas, porque esse espírito realizava ordens sociais racionais (por meio das leis jurídicas), mas estava ainda em evolução, isto é, não eram realizações definitivas como uma árvore).
Estas eram realizações do espírito humano, semelhante ao espírito divino, mas sem a sua potência e sempre em um estágio determinado, fazendo história, até concluí-la em uma última sociedade: seu ponto definitivo na árvore que as sociedades estavam destinadas a ser como realização do ponto mais elevado da racionalidade humana.

AS IDEIAS DE MARX EM OPOSIÇÃO À CONCEPÇÃO DE HEGEL
Marx fez objeção à concepção hegeliana, pois não acreditava em espíritos, não acreditava que a ordem da Natureza fosse em essência uma ordem espiritual, nem que a ordem da sociedade fosse uma ordem derivada do espírito humano no ponto de evolução em que estivesse.
Tal como a Filosofia de Hegel, que fundamentava com seu idealismo o Direito e as sociedades, Marx precisava que, em oposição, que o seu materialismo fizesse o mesmo.
O idealismo de Hegel desenvolvera uma teoria da história da Filosofia, por meio da qual era possível deduzir uma história idealista do Direito e das sociedades.

Marx tinha que produzir (Esse não era um problema que pudesse ser resolvido recorrendo à tradição do materialismo filosófico em Leucipo, Demócrito e Epicuro.
Não era possível encontrar nesse materialismo uma ideia compatível com algum princípio de transformação, sempre necessário quando se quer falar em história não como coleção de fatos e sim como sucessão de radicais mudanças.
A ideia de átomo, por exemplo, não inspirava ideia de mudanças, de variações), antes de tudo uma concepção materialista da história. Só a partir dessa concepção poderia ter uma teoria materialista para as sociedades, para a Filosofia e para o Direito.

MARX E AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Em 1837, Marx era estudante de Direito na Universidade de Berlim, quando encontrou a questão que motivaria seu trabalho intelectual por toda a vida, trabalho do qual várias partes foram tomadas como contribuições para as Ciências Sociais.
Nesta universidade, o ensino e o estudo do Direito eram fundamentados no pensamento de Hegel, filósofo cuja concepção de mundo, isto é, concepção daquilo que seria em si a realidade das coisas, a essência das coisas, pode ser definida como idealista.
Quando ainda jovem, Marx, de modo muito rude, primário, afirmou que a ordem da Natureza não é uma realização espiritual, divina, e sim uma ordem material em si mesma, e que a ordem das sociedades não é uma realização do espírito humano e sim uma forma de existência material dos homens.

Hegel, na sua teoria da história, recorrera à ideia da unidade de contrários de Heráclito (Filósofo pré-socrático).
Com ela, lhe fora possível imaginar o pensamento absoluto, bastando a si mesmo, sem recorrer a nenhuma outra realidade para pensar, porque já trazia ao produzir a tese (Conceito), imediatamente ligada a ela, portanto, a sua antítese (O seu contrário), o que lhe permitia discutir em si mesmo e chegar a uma síntese.
Era isto o que Marx precisava encontrar na existência material das sociedades para que estas fossem pensadas como realidades em si mesmas, bastantes em si mesmas para terem suas histórias materiais independentes de realidades que não fossem materiais e sociais.
Se a ideia de unidade de contrários dera condições à uma concepção idealista da história, poderia dar condições a uma concepção materialista da história. O problema seria descobrir a existência de alguma unidade de contrários nas sociedades.

Marx chegou (Após uma sucessão de trabalhos escritos para desenvolver suas reflexões básicas, de ler alguns trabalhos de Engels e de escrever com este um trabalho para esclarecer as ideias convergentes de ambos) chega a um raciocínio simples, sobre o qual seria construída uma complexa teoria das sociedades, que obedeceu à exigência de não recorrer a nenhuma realidade não material ou não social para fundamentá-la. Esta foi uma condição não intencional nem prevista, mas decisiva para fazer de seu autor um clássico das ciências sociais.
Se existem Filosofia e Direito e se há história, é porque existem sociedades. Se sociedades existem, é porque nelas os homens estão vivos. Se nelas os homens estão vivos, é porque em sociedades encontram condições materiais de existência.
Como em sociedades essas condições não são dadas e sim produzidas, existe a produção social dessas condições, que é totalmente diferente da produção isolada de um homem perdido em uma ilha. Essa produção social só é possível por meio de relações sociais de produção.

Marx não hesitou em considerar que a unidade de contrários que procurava no mundo material estava nas relações sociais de produção (Relações entre burgueses e operários, relações antagônicas, relações entre contrários)
Após conhecer o proletariado de Paris e ter conhecimento da vida dos trabalhadores na Inglaterra por meio de um dos trabalhos de Engels. Foi a essas relações (As relações “entre patrício e plebeu, entre barão e servo, e outras entre opressores e oprimidos”) e a todos os tipos semelhantes encontradas na história que ele chamou de luta de classes.

A PRODUÇÃO DAS CONDIÇÕES MATERIAIS
Para haver produção social das condições materiais de existência, as relações sociais de produção devem se conjugar às forças produtivas materiais existentes nas sociedades. Essas forças produtivas são os recursos humanos que as sociedades possuem, desde a força física de cada trabalhador até os instrumentos de produção produzidos pelos homens e as técnicas de utilizá-los.
Para Marx, sem essa conjugação não haverá produção social das condições materiais de existência, não haverá homens vivos formando sociedades, não haverá sociedades, não haverá Direito nem história. Ou seja, sem conjugação entre relações sociais de produção e as forças produtivas materiais das sociedades, não haverá produção social; sem produção social não haverá sociedades.

Se a infraestrutura são as relações sociais de produção que têm como elemento ou objeto tudo que esteja no trajeto da produção social até o consumo final, estas não podem ser pensadas no vazio, isoladas.
Essas relações devem sempre ser pensadas em conjugação com as forças produtivas materiais das sociedades, que são os seus elementos próprios, os seus objetos definidores, como condição necessária para as sociedades existirem. Não é, portanto, qualquer produção das condições materiais que dá existência às sociedades. É preciso que seja produção social, produção por meio de relações sociais.
Assim, se toda sociedade para Marx é uma síntese de três tipos de realidades, cada uma com a sua ordem ou estrutura, essa síntese só é possível se houver essa produção social das condições materiais de existência. Só ela torna possível que haja uma ordem de ideias socialmente significativas com relações sociais próprias (superestrutura ideológica) e que o emprego da violência entre os homens seja organizado num outro conjunto de relações sociais para garantia deles próprios em sociedades (superestrutura jurídico-política).

 O rigor com que Marx procurou marcar e distinguir as relações sociais, em especial as relações sociais de produção, como resultado de sua oposição ao idealismo de Hegel, veio a ser a principal razão da consagração de seu pensamento como um clássico das Ciências Sociais.

DICA 3 - A Pluralidade das Ciências Sociais. Diferenças básicas e autores clássicos

A Pluralidade das Ciências Sociais. Diferenças Básicas Autores Clássicos

 Marx, as sociedades seriam formadas pela conjugação
de três partes inseparáveis: a produtiva, a ideológica
e a jurídico-política.
Durkheim, o social consiste em maneiras de agir, pensar e sentir, coletivas e não individuais
 Weber, será toda ação humana em que o sujeito tem em mente, isto é, mentalizada, a conduta ou ação Em ordem cronológica de aparecimento, são eles:
 Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber

 Admite-se hoje que as Ciências Sociais têm nesses três autores clássicos seus principais referenciais.
 São três diferentes concepções científicas, de realidade social e três diferentes propostas de método que não se combinam nem se completam.
 de outros sujeitos.

Pluralidade de Pensamento
Há um pensamento equivocado deque um dos autores deveria prevalece sobre os outros dois, como se maneira científica de pensar tivesse que ser necessariamente única, como se a pluralidade no pensamento de uma ciência fosse um erro, uma etapa pré-científica.
A PLURALIDADE de pensamento nas ciências sociais com a sua diversidade de pensadores é a sua maior riqueza e a sua melhor demonstração de liberdade intelectual.
Nenhum dos três autores pode ser considerado errado. Suas bases são diferentes, mas não negam umas as outras. Elas apontam para diferentes caminhos, que demonstram como diferentes maneiras de ver a realidade..

INFRAESTRUTURA PRODUTIVA
A INFRAESTRUTURA produtiva (ou econômica) seria o grande conjunto de relações sociais decorrentes de determinado tipo de propriedade de meios de produção.
As relações sociais de produção, que têm como elemento ou objeto tudo aquilo que está no processo social,vai da produção, passando pela circulação, pela distribuição e pela troca, até o consumo final, como: força de trabalho, instrumentos de produção, fábricas, caminhões, frigoríficos, supermercados e bens de consumo.

ESTRUTURA IDEOLÓGICA
A superestrutura ideológica seria o grande conjunto de relações sociais que tem como elemento as ideias socialmente significativas, isto é, aquelas que dizem respeito direta ou indiretamente à vida dos homens em sociedades.
Os componentes dessas estruturas são:
- a censura, explícita ou não.
- os meios de comunicação de massa.
- as escolas.
- as faculdades.
- e demais formas sociais de produzir, permitir ou impedir ideias.

ESTRUTURA JURÍDICO-POLÍTICA
A superestrutura jurídico-política seria o conjunto de relações sociais, sobretudo em instituições que dizem respeito ao emprego da violência legítima, isto é, consentida, em sociedades de modo a garantir tarefas sociais específicas como executar, legislar e julgar organizadas nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

ÉMILE DURKHEIM
Durkheim concebe como realidades sociais as maneiras de agir, isto é, de pensar e sentir que seriam coletivas e não individuais, como, por exemplo, ideais e sentimentos patrióticos, chamadas por ele de FATOS SOCIAIS.

FATOS SOCIAIS
Diferentes de muitas realidades encontradas em sociedades que não são propriamente sociais, como comer, beber, dormir e raciocinar, que são de origem biológica ou psicológica, os fatos sociais teriam origem coletiva e se manifestariam nas ações individuais como coisas não espontâneas, isto porque seriam adquiridas por meio de educação ou outras formas de exercer coerção nos indivíduos para que se comportem de acordo com valores sociais e não de acordo com o que seriam seus possíveis impulsos e forças naturais.

Para Durkheim o ponto mais importante é considerar que o social é decorrente da interação entre indivíduos, mas será sempre diferente de qualquer realidade própria de individualidades ou da soma do que for individual naqueles que participam da vida coletiva.
Não há, portanto, continuidade entre o que os indivíduos são por natureza e o grupo e a sociedade que formam.
As sociedades não representam ninguém, não são a vontade de ninguém, antes o contrário: os homens é que representam as sociedades, aquilo que eles produziram coletivamente, a consciência coletiva de cada uma delas
SOCIAL Assim como a água, que é realidade completamente diferente do oxigênio e do hidrogênio que formam as suas moléculas, o social nada tem a ver com a realidade biológica ou com a realidade psicológica dos indivíduos que vivem em um grupo ou em uma sociedade.

MAX WEBER
Sociais são as ações cujos sujeitos, ao agirem, tenham em mente a conduta ou ação de outros e se orientem por essa ação ou conduta.
o social deve ser definido de acordo com o que próprio sujeito da conduta ou ação individual que tiver mentalizado.
Se ao agir leva em conta a conduta de outros e se orienta por ela, agirá socialmente, caso contrário, não. Ao cientista social cabe apenas interpretar

Ao dizer que os três autores clássicos das Ciências Sociais são diferentes entre si, é justo dizer que Weber é o mais diferente
Marx e Durkheim destacam realidades coletivas como realidades fora e acima dos indivíduos, respectivamente, classes e consciência coletiva, coisa que Weber não aceita em hipótese alguma.

Se há algum sentido na existência das sociedades, nas instituições, nas pessoas jurídicas, este sentido (consciente ou não) para Weber, só poderá estar nas pessoas individuais que participam de ações comunitárias (ações nas quais os participantes têm o sentimento de pertencer a um todo).
Weber criou a chamada Sociologia Compreensiva, que consiste em interpretar os sentidos, isto é, os motivos mentalizados pelos indivíduos quando agem socialmente (Seja em ações puramente individuais, seja tomando parte em ações coletivas)
Weber chamou de TIPO IDEAL o seu principal recurso interpretativo e apresentou uma tipologia básica desses sentidos, bem como uma tipologia da dominação, caso especial de poder, ponto fundamental da parte política de seu pensamento.
Existem três formas clássicas de pensar nas Ciências sociais que não se excluem, mas também não se completam. Poderíamos dizer que são como diferentes línguas, idiomas, cada uma com suas regras próprias, sua gramática, sua sintaxe.
Ao contrário das línguas, as formas clássicas de pensar das Ciências Sociais não se traduzem umas nas outras. Cada uma delas é uma forma independente de pensamento que levanta os seus próprios problemas e tem a sua maneira própria de resolvê-los. Assim é a pluralidade nas Ciências Sociais.

DICA 2 - As origens das Ciências Sociais. Seus primeiros passos

AS ORIGENS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS: OS SEUS PRIMEIROS PASSOS

- Conhecer o que foi a Revolução Industrial e suas conseqüências.
- Compreender porque a Revolução Industrial resultou da aplicação de - conhecimentos científicos;
- Identificar Augusto Comte como o pensador que denominou ciência social como Física Social, compreendendo o Positivismo a partir da Lei dos Três Estados, a classificação das ciências e a Religião da Humanidade.
Segunda metade do século XVIII
 invenção da máquina a vapor aumentou a capacidade produtiva.
 criação de fábricas em centros urbanos provocando grande migração de população do campo para as cidades.
 problemas sociais oriundos da falta de urbanização.
 Difusão do pensamento de que só uma ciência social daria solução.
Conhecimento Científico:
 Revolução Industrial atribuída à aplicação dos conhecimentos científicos da física newtoniana segunda metade do século XVIII
.
O Progresso na produção
 levou à criação de grandes centros industriais em cidades que não tinham condições de suportar a intensa migração do campo para a cidade por populações em busca de trabalho.
 pessoas se aglomeravam de maneira desorganizada em habitações precárias e insalubres.
 aparecimento de mendigos,
ladrões e aventureiros
 Ambientes assolados por
violência, fome e doenças.
A questão social
 dura e dramática novidade que desafiava os intelectuais a encontrar soluções fundamentadas no conhecimento científico.
 o conhecimento científico das ciências que estudavam os fenômenos naturais era o que faltava para tratar os fenômenos sociais, acreditavam os intelectuais
Houve busca de soluções?
Sim! A busca de uma ciência que correspondesse à uma Física Social, como viria a chamá-la Augusto Comte. O positivismo, neste caso, exige que o cidadão se caracterize como:
 ser cientista;
 não pensar de forma religiosa;
 rejeitar explicações sobrenaturais;
 buscar nos próprios fenômenos
 suas explicações e não em entidades
sobrenaturais.
Lei dos Três Estados
Teológico Metafísico Positivo
- para pensar e dizer a respeito dos fenômenos existentes os homens usaram, na sua evolução histórica, a imaginação teológica, a especulação metafísica e o pensamento científico (que apareceu pela primeira vez com a Matemática)
- os estados teológico, metafísico e positivo, já com a palavra “positivo” significa bem mais do que o “aplicável dado da experiência”, assim como significava para Saint-Simon.

“...a sociedade não é uma simples aglomeração de seres vivos (...); pelo contrário, é uma verdadeira máquina organizada, cujas partes, todas elas, contribuem de uma maneira diferente para o avanço do conjunto. A reunião dos homens constitui um verdadeiro SER, cuja existência é mais ou menos vigorosa ou claudicante, conforme seus órgãos desempenhem mais ou menos regularmente as funções que lhes são confiadas.” Saint-Simon (1760-1825)

Com base na Lei dos Três Estados, Augusto Comte elaborou a classificação das ciências, de acordo com o aparecimento histórico de cada uma e o progressivo abandono da imaginação teológica e da especulação metafísica no conhecimento.
Definição de Positivismo
Corrente Filosófica que marca nossa existência e nossa educação. “Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto” (Comte)
 Veja a Quadrinha ao lado. O que você achou do diálogo entre as personagens?


 Para Comte, o método positivista consiste na observação dos fenômenos, subordinando a imaginação à observação.
 São sete palavras que resumem o pensamento de Comte:
REAL
ÚTIL
CERTO
PRECISO
RELATIVO
ORGÂNICO
SIMPÁTICO
 Para Henry Myers (1966), os positivistas deixaram de lado a busca pela explicação de fenômenos externos para buscar a explicação de elementos mais práticos e presentes na vida do homem.
 A representação máxima da influência do positivismo no Brasil foi o emprego da frase “Ordem e Progresso” na bandeira brasileira:
 O amor por princípio.
 A ordem por base.

 O progresso por fim.
 Considerando os fenômenos que as Ciências Sociais tratavam, da mais simples para a mais complexa, apareceram a Matemática, a Astronomia, a Física, a Química e a Biologia que, a começar pelo método dedutivo matemático, teriam somado métodos que possibilitaram o progresso do conhecimento científico e prepararam as condições para a mais complexa das ciências, aquela que trataria a mais complexa das realidades: A FÍSICA SOCIAL
Física Social: palavra criada por Augusto Comte em 1839.
Ciência Positiva dos fenômenos sociais, à qual deu o nome de SOCIOLOGIA.

NOTA: A Sociologia de Augusto Comte, contrariou o rigor científico dominante no século XIX e se desenvolveu somente entre os seguidores do Positivismo.
 A palavra Sociologia, passou a designar outros projetos de conhecimento científico de objetos de caráter social, como foram os trabalhos de Frederic Le Play e Herbert Spencer
 A definição do que seria realidade social, como realidade pura, como realidade que não se confundisse com outras.

Para Augusto Comte, os fenômenos sociais seriam derivados do que dizia ser a natureza gregária dos homens.
 Com essa ideia não era possível falar de realidade social como coisa isolada dos demais fenômenos.
.
Marx,e Weber, cada um a seu modo, fizeram isso e foram consagrados como clássicos das Ciências Sociais.

DICA 1 - As Ciências Sociais. Diferenças fundamentais.

• AS CIÊNCIAS SOCIAIS: DIFERENÇAS FUNDAMENTAIS.

 Reconhecer a importância das Ciências Sociais;
 Diferenciar Sociologia, Antropologia e Ciência Política;
 Compreender como a diversidade de realidades sociais existentes, são inseparáveis.

 Por que estudar Ciências Sociais?
 Quais são as Ciências Sociais?
 Qual o objeto de estudo da Ciência Social?

O papel da Universidade em nossa vida é nos ajudar a superar a interpretação corriqueira dos fatos, ou seja, sair do senso comum. O senso comum é uma forma de pensar coletiva e que tem o seu valor. Todos nós temos um senso comum. No entanto, partir sempre dele é negar outras formas de refletir e de pensar, inclusive o pensamento científico.

Você que tem a oportunidade de estudar deve ser reflexivo e buscar resposta às questões através das ciências. O bom profissional não elabora qualquer resposta aos problemas que surgem, mas reflete a partir de teorias científicas, que podem elucidar a realidade para que a solução seja encontrada.

Sabemos que a característica fundamental da condição humana é a capacidade de conhecer e de construir compreensão sobre os meios e processos necessários para a organização e a facilitação do ato de viver. O conhecimento, produto da atividade consciente do pensamento, estabelece a natureza social do ser humano e o condiciona à sua história e à sua cultura.

A capacidade de conhecer desenvolveu a vida social. E a vida em grupos, por sua vez, ampliou o próprio conhecimento humano. Esse é o círculo virtuoso que trouxe o ser humano aos dias de hoje, por meio de um processo histórico milenar que só poderia ocorrer em grupo, em sociedade.
Sua resultante pode ser denominada de cultura: o homem, ao conhecer, compartilhar e registrar o produto de sua atividade pensante constrói cultura, estabelecendo este longo fio processual tecido pela capacidade cognitiva humana ao longo da História. Somos, não há dúvidas, seres sócio-culturais.

• Sendo assim ...
O que são as Ciências Sociais?
É um ramo da Ciência que estuda os aspectos sociais do mundo, isto é, a vida social de indivíduos e grupos humanos incluindo as ciência da Antropologia, Economia, História, Linguística, Ciências Políticas, Sociologia entre outras.

Sociologia – Antropologia – Ciências Política
Sociologia
É uma das ciências humanas que estuda a sociedade, ou seja, estuda o comportamento humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. Enquanto o indivíduo na sua singularidade é estudado pela Psicologia, a Sociologia tem uma base teórico-metodológica, que serve para estudar os fenômenos sociais, tentando explicá-los, analisando os homens em suas relações de interdependência. Compreender as diferentes sociedades e culturas é um dos objetivos da sociologia.

Antropologia
É a ciência preocupada em estudar o Homem e a Humanidade de maneira totalizante, isto é, abrangendo todas as suas dimensões. A divisão clássica da Antropologia distingue a Antropologia Cultural da Antropologia Biológica. Cada uma destas, em sua construção resguardou diversas correntes de pensamento.
(origem etimológica: deriva de
anthropos (homem / pessoa)
e (logos - razão / pensamento)

Ciência política
 É o estudo da política - dos sistemas políticos, das organizações e dos processos políticos. Envolve o estudo da estrutura (e das mudanças de estrutura) e dos processos de governo - ou qualquer sistema equivalente de organização humana que tente assegurar segurança, justiça e direitos civis.
 Os cientistas políticos podem estudar instituições como corporações ou empresas, uniões, ou sindicatos, igrejas, ou outras organizações cujas estruturas e processos de ação se aproximem de um governo, em complexidade e interconexão.

CULTURAL

Tendo em vista que a Antropologia, é toda realidade individual ou coletivamente produzida pela inteligência humana que caracterize e seja distintivo de um grupo ou de um povo em um espaço físico do mundo ou na história.
Fala-se em cultura, portanto, quando se fala na música popular, na culinária, em um estilo de vida, na língua falada, na língua escrita ou outras produções distintivas de um grupo, de uma sociedade ou de um povo.

SOCIAL
Tendo em vista a Sociologia, para definir algo como social, devemos considerar toda realidade própria de grupos ou sociedades em que não houver emprego de violência e que não for caracterizadora ou distintiva de um grupo ou de um povo.
Social é aquilo que mantém os homens integrados, coesos em grupos ou sociedades por ser produto da vida coletiva, contrariando assim a ideia de que os homens seriam seres sociais por natureza. Em rigor, essa definição quer dizer que os homens são sociais devido à educação que recebem, isto é, à educação que os faz agirem como seres sociais específicos de um grupo ou sociedade.

POLÍTICO
O objeto definidor e esclarecedor do político, de acordo com a Ciência Política, é a violência e tudo aquilo que se refere ao seu emprego entre os homens em sociedades.
De todas as tarefas existentes em sociedades, três são as tarefas políticas, ou seja, três são as tarefas que dependem do emprego da violência: executar, legislar e julgar. Logo, as três instituições políticas básicas, porque diretamente expressivas dessas tarefas: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário, políticos são todos os seus componentes.

Os primeiros sociólogos construíram conceitos voltados para a tentativa de interpretar, por critérios científicos, a realidade social.
Este foi o primeiro desafio teórico dessa ciência, que é uma das marcas centrais da modernidade, uma vez que o passo a ser dado implicava em superar, por meio da razão, os preceitos colocados pelos ensinamentos do senso comum que, até então, dominavam a maior parte das interpretações e explicações sobre o sentido da ação coletiva humana.
Produto da modernidade, os estudos clássicos da sociologia ora enfatizam a ação individual, ora a ação coletiva. Alguns estudiosos privilegiam o papel ativo do indivíduo nas ações sociais, enquanto outros enfatizam o papel da sociedade e de suas instituições, e outros, ainda, destacam a importância do conjunto das práticas que definem as relações entre indivíduo e sociedade.

Poderíamos agora pensar na seguinte questão: Qual o sentido de um Administrador estudar essas questões?
 Alguém alienado pode gerenciar bem uma empresa?
 É possível administrar bem uma empresa negando a realidade social do Brasil e do mundo?
 As decisões políticas tem a ver com o sucesso ou fracasso da empresa?

“O Analfabeto político”
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

-x-

Redes municipales y cooperativismo: una articulación desde la escala local (Argentina y Brasil, a principios de siglo XXI) (Ariel García, Javier W. Ghibaudi, Adalton Mendonça.

  XX ENANPUR - Local: Centro de Eventos Benedito Nunes no Campus da UFPA. Belém, Pará. maio de 2023 ST - 2 - Políticas públicas e gestão mul...